quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

LOST

Um amigo me disse: Você mora na Ilha, mas não é da Ilha, né, Gabi?
O verbo ser não foi utilizado no sentido de ter nascido, ter sido criada, mas sim no sentido de pertencer a um lugar, de se identificar com ele. E a minha resposta foi um balançar de cabeça, afirmando aquilo... nunca tinha pensado dessa forma.

Depois, com mais calma, pude refletir sobre os porquês de não haver essa minha identificação com meu bairro. Não é porque ele se localiza na zona norte da cidade, ou porque aqui não exista praia, ou porque eu tenha que pegar dois ônibus para ir a quase qualquer lugar no Rio de Janeiro. Antes esses fossem os problemas.

A Ilha tem tudo para ser alguma coisa que, nesses meus 19 anos de vida, não a vi nem chegar perto de ser. No meu bairro está localizado o aeroporto internacional do Rio, há TRINTA E TRÊS ANOS e, apesar disso, aqui não passa linhas de ônibus para quase nenhum outro bairro. Nem falo sobre metrô, pra não parecer utópica demais.

Do lado da Ilha do Governador, está o maior campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Ilha do Fundão. E onde está o investimento e o incentivo às pessoas que, porventura, desejassem viver aqui e estudar lá? Não, isso não existe. Todos preferem morar em seus bairros de origem, sejam eles onde forem, do que vir morar a, sei la, 10 km de sua faculdade.

Não sou rabugenta, não reclamo o dia inteiro por viver onde eu vivo, porque sei que essa não é a solução pra nenhum dos problemas... mas não me conformo em viver assim, como muitas pessoas próximas a mim.

Cansei de monopólio de empresa de ônibus, de falta de administração, da falta de atenção por parte do governo, de ser obrigada a sair do meu bairro pra ir a um teatro digno, de ter que até pouco tempo fazer isso até pra ir ao cinema. Não acho digno ter que pegar dois ônibus pra ir até à faculdade.

Rio das Ostras, cidade que eu morei durante algum tempo, tinha em 2008, segundo informações da prefeitura, 91 mil habitantes... A Ilha, só a Ilha, esse bairrozinho afastado e vítima de tanta má vontade, tem 200 mil habitantes, que eu posso afirmar com toda certeza que desejam ter um lugar melhor pra viver.

Copa, Olimpíadas... o mundo inteiro vai passar por aqui. Vamos ver o que será de nós. Espero que até lá eu tenha motivos suficientes para ser desse lugar.